Por que Galícia?
No meu primeiro post do Espanholeira, eu contei como sobreviver à papelada, aos apostilamentos e às temidas citas prévias ao chegar na Espanha.
Mas, depois de ajeitar os carimbos e traduções, fica a pergunta: por que escolhi a Galícia?
👉Resposta curta: porque o aluguel em Madri ou Barcelona custa um rim e meio fígado.
👉Resposta sincera: porque a Galícia é linda, tem alma, cheiro de mato molhado. Tem mar, montanha, neve, muita chuva (70% do tempo) e, às vezes, até sol (juro!).
E, sim, meu guarda-chuva me trouxe até aqui. Mas ninguém sabe, para onde ele vai me levar depois! 
Onde fica e qual é o clima?
A Galícia é aquele cantinho no norte da Espanha, coladinho a Portugal. Antes de virar fronteira, carimbo e pilha de documentos traduzidos, os dois falavam a mesma língua: o galego-português.
Sim, aquela língua dos trovadores medievais, das cantigas nos castelos, que foi berço tanto do português quanto do galego.
Mas aí a história complicou (como sempre): Galícia ficou com a Coroa de Castela (hoje Espanha), Portugal seguiu independente, e o idioma que era um só foi se afastando, tipo um casal que se separa.
Portugal ficou com as crianças, e a Galícia com o carro e a casa. Divisão típica de separação, só que sem pensão alimentícia.
Resultado?
Hoje, o galego parece português medieval com sotaque espanhol. Já o português é como o galego que relaxou um pouco, afinou a melodia e voltou mais leve. Aqui falar galego é símbolo de identidade.
E mesmo que muita gente misture com o espanhol, as frases típicas te pegam de surpresa. Viver na Galícia, sendo brasileira, é como visitar os bisavós linguísticos da gente.
Galego: O primo do português
O idioma oficial daqui é o galego. Sim, ele existe, não é lenda urbana! E claro, também falam espanhol.
Mas prepare os ouvidos para pérolas como:
• “Sentidiño.” (Prudência, mas com tom carinhoso de mãe/pai: "toma sentidiño!" antes de sair de casa )
• “Malo será!” (O otimismo galego: algo como “vai dar tudo certo!”)
• “Ser un toxo.” (Pessoa seca, brava, tipo um arbusto espinhoso)
Quer trabalhar aqui?
Vai ouvir falar do Celga, o certificado oficial de galego. Até para ser funcionário de limpeza da Prefeitura (Concello) ele é exigido.
Mas calma: não precisa virar fluente da noite para o dia.
Vai aprendendo aos poucos… ou melhor, pouquiño a pouquiño, como dizem aqui.
Eu ainda não tenho o Celga... mas estou na luta!
Chuva, guarda-chuva e poesia
Clima? Prepare-se. “Se chove, que chova".
Aqui chove, para, chove de novo. O tempo aqui é como um relacionamento confuso: imprevisível.
- Guarda-chuva é acessório fixo.
- Galochas viram moda (e não é só entre crianças de desenho animado).
- O sol? É celebrado como feriado nacional.
No clima de Mary Poppins, deslizo pelo vento, guarda-chuva na mão, tentando manter o bom humor que insiste em escapar, correndo de uma repartição a outra. Porque cita prévia não dá trégua, nem para quem ousa desafiar a gravidade!
Por que vale a pena?
Mudar de país é uma montanha-russa.
Mudar pra Galícia é uma montanha-russa com guarda-chuva aberto.
Mas quando você para, respira fundo e escuta, seja o mar, o silêncio das montanhas... entende: é aqui.
Lá de onde eu vim, diziam que quem não se aventura é porque enterrou o umbigo por lá ou bebeu da água do Tietê.
Pois é… sem perceber, enterrei meu umbigo na Galícia e bebi água das Rías Altas.
No fim, viver na Galícia é como abrir uma porta para outro mundo. Um mundo celta, marinheiro, verdejante e, ao mesmo tempo, acolhedor como um abraço.
Galícia não é só um lugar no mapa: é um estado de espírito.
E foi justamente esse espírito que me inspirou a escrever a canção "Spirit of Galicia", uma homenagem às brumas, o verde, que tornam esta terra única. E com ou sem chuva, ela acaba te conquistando!
Ouça Spirit of Galicia no Youtube : https://youtu.be/_ms0Oip3vQY?si=7y4miGTAOsNqmjKH
No hay comentarios:
Publicar un comentario